A Revista Veja desta semana traz uma matéria sobre o cantor Wilson Simonal. Simonal, para aqueles que se lembram, foi um fantástico “enterteiner”. Se o amigo leitor não pegou essa época perdeu uma grande chance de ver um homem sozinho no palco fazer com que mais de 20.000 pessoas no Maracanãzinho cantassem “Meu limão, meu limoeiro”, dividindo a platéia em grupos; “agora só os homens”, “agora só as mulheres”. Todos cantavam obedecendo ao arranjo, até o invariável “agora só as virgens” que ninguém cantava e terminava com uma gargalhada geral.
O fenômeno Simonal, que entre outros grandes sucessos popularizou “País Tropical”, de Jorge Benjor, ia de vento em popa até que numa discussão idiota com um contador, pediu a um policial amigo que prendesse o sujeito. Parece que o tal amigo era do DOPS. Foi o suficiente para a “patrulha” estabelecer o elo que faltava. E de repente, não mais que de repente, como dizia o poeta, o cantor de maior sucesso neste país nunca mais foi convidado a se apresentar. Era portador de uma doença infecto-contagiosa que começava a disseminar pelo mundo cujo primeiro sintoma era não ser comunista. Tinha a imensa ousadia de cantar músicas como as já citadas ou “na galha do cajueiro” e “Lobo bobo”, ao invés de cantar a fome, a miséria e a pobreza que enriqueceram e continuam enriquecendo um monte de pilantras. Aliás, por falar em pilantra, inventou com Carlos Imperial “a pilantragem”, ritmo cheio de suingue que todo mundo dançava. Imperdoável!! Os comissários do povo não podiam admitir que um país tão famélico e desigual, pudesse ser “Abençoado por Deus e bonito por natureza”.
Com essas e com outras, o”Simona” desapareceu da mídia. Cantou até em circo para viver, enquanto a “turma do Carcará” e seus sucessores juntavam seus milhões de dólares e iam “se esconder” da policia, em Paris, Londres ou Nova York, os chamados “exílios dourados”.
Simonal foi literalmente enterrado vivo como apropriadamente Veja destaca. A última vez que estive com ele foi no velório de meu pai. Sempre educado, sinceramente triste pela morte do “velho”, ficou ali com o pensamento em algum lugar distante, talvez lembrando os velhos tempos da Record ou talvez daqueles que o assassinaram artisticamente ganhando polpudas e indevidas pensões, quem sabe por atos tão covardes quanto aqueles que o vitimaram. Poucos meses depois disso ele morreu. Outra vez.